DRUMMOND
PARA TODOS
(Neide Medeiros Santos - Leitora Votante FNLIJ/PB)
Se eu
morrer, morre comigo
um certo modo de ver.
Tudo foi prêmio do tempo
e no tempo se converte.
(Carlos
Drummond de Andrade. Desfile. In: A Rosa do Povo)
Recebi da Editora Companhia Das Letras o livro “Nova
Reunião: 23 livros de poesia” (2015), de Carlos Drummond de Andrade. É tanta
poesia que não houve espaço para prefácio, apresentações, textos críticos, é
poesia, da primeira até a última página e são mais de 900 páginas, poesia para
“inundar a vida inteira”.
Este ano completa 70 anos da publicação do livro “A Rosa
do Povo”, o mais político de todos os livros de Drummond e um livro considerado
marco na literatura brasileira. Nesta
edição de 2015 se encontram todos os poemas que integram este livro.
Para marcar os setenta anos da publicação do livro “A
Rosa do Povo”, a TV. Senado apresentou no dia 31 de outubro o documentário
“Drummond: Poeta do Vasto Mundo”, com a participação de professores, críticos
literários que emitiram opiniões sobre a
poesia de Drummond. O documentário contou ainda com atores e declamadores
recitando os poemas mais expressivos do poeta. Este documentário está
disponível na internet. Vale a pena conferir.
Em 1969, Drummond publicou “Reunião” em um único volume
que reunia dez livros. Em 1983, surgiu “Nova Reunião”, com dezenove títulos,
esta agora em 2015 é mais completa, são 23 livros, sendo que dezesseis com
todos os poemas e sete com seleção dos melhores poemas dos últimos livros do poeta.
Em uma nota
sucinta, os editores afirmam que na
língua inglesa existe a figura do “portable”, o livro que reúne o melhor da
produção de um determinado autor e consideram que “Nova Reunião: 23 livros de
poesia” é o Drummond portátil para “leitores brasileiros de todas as idades”.
Mas o que destacar nessa coletânea de 23 livros de
Drummond?
Em primeiro lugar, louvar
a iniciativa de editora Companhia Das Letras por trazer uma antologia quase
completa da poesia drummondiana; ressaltar
que este livro traz uma contribuição valiosa para compreender as várias
fases da poesia de Drummond, afinal foram mais de cinquenta anos escrevendo e
divulgando poesia; proporcionar aos
alunos de nível médio e universitário um melhor conhecimento da poesia do poeta
mineiro. Como a coletânea reúne muitos livros, o leitor pode acompanhar a
trajetória do poeta desde os anos 1930 até 1986.
A leitura integral dos poemas permite detectar vários eus
do poeta e citamos: o lírico, o político, o dramático, o metafísico, o sensual,
o irônico. Vamos destacar, com citação de excertos dos poemas, a manifestação
de algumas dessas modalidades poéticas.
“A casa do tempo
perdido” se encontra em um dos últimos livros publicados por Drummond –
“Farewell” e a leitura desse poema nos transporta ao Centro Histórico de João
Pessoa com muitas casas abandonadas.
Bati no portão do
tempo perdido, ninguém atendeu.
Bati segunda vez e outra mais e mais
outra.
Resposta nenhuma.
A
casa do tempo perdido está coberta de hera
pela metade; a outra metade são
cinzas.
(...)
“Caso do vestido”,
inserido em “A Rosa do Povo”, é um texto cheio de diálogos entre uma mãe e as
filhas, prestando-se muito bem para a representação, mas há vários outros poemas
de Drummond que parecem que foram feitos para o teatro. “Morte do leiteiro” é
outro bom exemplo de texto dramático.
Na área da literatura infantil, é possível pinçar vários
poeminhas curtos que serão bem aceitos pelas crianças. No livro “Boi Tempo”, citamos,
entre outros, “Cantiguinha”, “Orion”, “Concerto”, “Visita à casa de Tatá”.
“O Elefante” integra os poemas de “A rosa do
povo”, não foi escrito para crianças, abrange discussões bem profundas com
relação aos problemas de incertezas de um mundo conturbado por guerras (foi
publicado em 1945) e foi apresentado como poema infantil, uma publicação da
Record e contou com belas ilustrações de Regina Vater. Não houve adaptação do texto, ele está
integral e as crianças podem não alcançar o significado do poema, mas sentem a
beleza dos versos. As crianças gostam de histórias de animais e o elefante é
apresentado de modo tão espontâneo, cheio de “doçura”, que elas se sentem cativadas
pelo poema.
Tenho
como livro de estimação “Poesia completa e prosa”, de Carlos Drummond de Andrade,
uma edição da Aguilar de 1973, adquirido em um sebo, mas com aspecto de novo. É livro antigo com cheiro de antiguidade, agora
arranjou um companheiro que foi muito bem-vindo.
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