Duas
histórias de Malala
(Neide Medeiros Santos – Leitora Votante da FNLIJ/PB)
Se os Estados
Unidos gastassem menos dinheiro em armas e guerras e mais em educação, o mundo
seria um lugar melhor.
(Palavras de Malala ao Presidente Barack Obama)
A
Companhia das Letrinhas e a editora Seguinte que integram o grupo da Companhia
das Letras publicaram dois livros sobre Malala em 2015. “Malala, a menina que queria ir para a escola”
(Companhia das Letrinhas, 2015), foi escrito pela jornalista Adriana Carranca e
recebeu ilustrações de Bruna Assis Brasil. “Eu sou Malala: Como uma garota
defendeu o direito à educação e mudou o mundo” (Ed. Seguinte, 2015), de Malala
Yousafzai com Patrícia McCormick, é uma autobiografia de Malala escrita
especialmente para o público juvenil. O
primeiro livro se destina ao público infantil, é sobre este livro que teceremos
nossas considerações, a autobiografia ficará para outra oportunidade.
Adriana
Carranca, autora do texto infantil, é jornalista de “O Estado de S.Paulo” e escreve
principalmente sobre conflitos, tolerância religiosa e direitos humanos, tem um
olhar voltado para a condição das mulheres no mundo atual. Para escrever este livro, Adriana viajou até o
vale de Swat que fica no Paquistão e quis conhecer de perto a história de
Malala. Vamos andar pelos caminhos percorridos pela jornalista e saber um pouco
mais sobre essa corajosa menina que ousou desafiar os poderosos para ter
direito à educação.
O vale de Swat é uma região muito bonita,
com campos verdejantes, cercados por altas montanhas pintadas de neve durante
quase todas as estações. É nesse local privilegiado pela natureza que vivem há
mais de 2 mil anos os pashtus, como Malala. Ela nasceu na cidade de Mingora e
queria estudar, o que é proibido para meninas sob o regime dos talisbãs, mas
seu pai era professor e pensava
diferente, ele queria que a filha estudasse e ela frequentava a escola do pai.
Há
um detalhe curioso nas sociedades patriarcais do sul da Ásia, como o Paquistão,
a chegada de um menino é motivo de festa, comemorações. Quando nasce uma menina,
os pais não anunciam nem festejam, muitas meninas não têm registro de nascimento, oficialmente não existem. Isso não aconteceu
com Malala, seu pai, o professor Ziauddin, era um homem muito justo e dava à
filha os mesmos direitos proporcionados aos filhos homens, Atal e khushal. E a pequena, antes mesmo de saber ler e
escrever, assistia às aulas do pai infiltrada entre os alunos mais velhos.
Adriana
ouviu um depoimento das colegas de escola de Malala e elas disseram que “ela
era a mais sabida, a mais valente, a mais falante” e desde pequena gostava de
discursar como gente grande. Nesse ponto, parecia com o “menino maluquinho”.
Destacava-se como aluna exemplar em todas as disciplinas, mas tinha predileção
por poesia – recitava poemas em várias línguas e já dominava o inglês.
Homens
barbudos e com cara de poucos amigos começaram a aparecer no vale, eram os
talibãs, homens terríveis, proibiam as mulheres de sair de casa e as meninas de
irem para a escola. A chegada dos talibãs mudou completamente a vida no vale
Swat, até a música foi banida e o vale emudeceu e ficou triste.
Foi nesse período de repressão que Malala começou a
escrever um blog. Para não ser reconhecida, adotou o pseudônimo de Gul Makai,
heroína do folclore pashtun, que é também o nome de uma linda flor azul. O blog
de Malala era escrito em urdu no site da rede de rádio e televisão da BBC na
Grã-Bretanha. O primeiro post começava assim: “Estou com medo”. O blog alcançou
grande repercussão. Protegida pelo anonimato, ela combatia a guerra e escrevia
sobre os problemas das meninas do Paquistão, vítimas da perseguição dos
talibãs.
E veio a ordem dos talibãs – as meninas estavam proibidas
de frequentar a escola, caso insistissem eles poderiam mandar as escolas pelos
ares. A vida se tornou insuportável no vale. O professor Ziauddin decidiu
passar alguns dias fora da cidade onde viviam com a família. Houve um certo
tempo de paz, os talibãs se refugiaram nas montanhas e as pessoas puderam
voltar para suas casas.
Um dia, quando voltava da escola com colegas na condução
escolar, um rapaz que estava em uma moto interceptou o ônibus e perguntou:
“Qual de vocês é Malala?” As colegas ficaram caladas, mas dirigiram o olhar
para Malala e ele reconheceu a mocinha (ela estava com 14 anos) e atirou três vezes na sua direção. Os tiros
atingiram Malala e duas amigas que tiveram ferimentos leves. Malala foi atingida na cabeça e como conseguiu
sobreviver é difícil de explicar, passou quatro meses hospitalizada, fez várias
operações, recuperou-se e não perdeu sua capacidade de lutar pelos direitos das
meninas à educação.
E sabem qual foi o primeiro pedido que Malala fez quando
recuperou a consciência? “Livros. Eu
quero livros”.
Adriana Carranca pesquisou toda a história de Malala,
visitou a casa, o quarto onde ela viveu. Nessa visita ela contou sempre com a
companhia e explicações das ex-colegas. Atualmente, Malala mora com sua família na cidade inglesa
de Birmingham, na Inglaterra. Por sua bravura, por seu trabalho pela educação, ela recebeu o Prêmio Nobel da Paz em 2014. Foi
a mais jovem ganhadora do Prêmio da Paz.
A bonita e comovente história dessa corajosa menina foi
ilustrada por Bruna Assis Brasil. Com traço sutil e ilustrações de Malala e de suas
colegas que mais parecem marioscas, Bruna deu mais beleza ao texto.
( Texto publicado no jornal "Contraponto", 20 a 26 de novembro de 2015, Caderno B, B-2)
COLUNA DA CRIANÇA
O jornal “Contraponto” conta agora com uma nova coluna – “Coluna
da Criança” que veio complementar o trabalho que fazemos no mesmo jornal há
seis anos com orientações de livros e leituras para crianças e jovens. A nossa
coluna “Livros &Literatura” é mais dirigida aos pais e professores,
incentivando-os a comprar bons livros para os filhos e alunos. Lembramos que,
durante dez anos (1992-2002), a professora e historiadora Yolanda Limeira (Yó
Limeira) foi editora do jornal “Correinho das Artes”, publicando textos e
ilustrações dos alunos das escolas públicas e particulares de João Pessoa. Yó
fazia uma verdadeira peregrinação pelas escolas, levando textos e livros de
poetas e escritores paraibanos. Nessa sua peregrinação, apresentou na Escola Catavento (de saudosa memória), o
conto da tradição popular “A menina dos cabelos verdes” e os alunos fizeram
ilustrações para este conto, deram opiniões sobre a história, tudo isso está
registrado no “Correinho das Artes” e no livro “Guriatã: uma viagem mítica ao
país-paraíso”. Quando o “Correinho das Artes” se findou, infelizmente, as
coisas lindas também se findam, como diz Drummond, ela criou a revista “Verdes
Anos”, novamente voltada para o público infantojuvenil e com a mesma proposta
do “Correinho das Artes.” A revista era trimestral e teve vida mais efêmera,
durou apenas três anos. Assim, ao ler a “Coluna da Criança” que procura
valorizar o trabalho literário desenvolvido por crianças que estão descobrindo
o mundo encantado dos livros, revivemos o tempo do “Correinho das Artes”
Durante todos esses anos ( 1992-2002) ( 2003-2006), colaboramos com Yó, tanto no “Correinho das
Artes” como na revista “Verdes Anos”. Escrevíamos uma coluna com dicas de
leitura para crianças e jovens.
2 comentários:
Parabéns pelo belo conteúdo do blog. Estou sempre por aqui, lendo, acompanhando, me encantando. Parabéns!
Um forte abraço.
Pedro Antônio de Oliveira
Excelente.........
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