Macunaíma para jovens
Macunaíma é
construído em uma espécie de colagem feita com mitos, folclore, histórias de
origens variadas, superstições, provérbios, frases feitas, neologismos,
palavras em tupi e anedotas que sintetizam o caráter de nosso povo e da nossa
cultura.
(Sílvia
Oberg)
Duas
bonitas edições do livro “Macunaíma”, de Mário de Andrade, foram publicadas
este ano (2016). “Macunaíma em quadrinhos” (Ed. Peirópolis), uma adaptação de
Ângelo Abu e Dan X e “Macunaíma, o herói sem nenhum caráter” (Ed. FTD), texto
integral, com ilustrações de Mariana Zanetti.
“Macunaíma”
foi publicado em 1928, no mesmo ano da publicação de “A bagaceira”, de José
Américo de Almeida. Os dois livros se destacam no cenário da literatura
brasileira pelo caráter inovador. “A bagaceira” foi obra introdutória do regionalismo
nordestino do século XX. “Macunaíma”, pela
mistura de variadas referências culturais e reflexões sobre a realidade
brasileira, despertou sempre a atenção dos críticos. Em “A bagaceira”, vamos encontrar um repositório
de termos regionais nordestinos; em “Macunaíma”, há o predomínio de palavras de origem indígena
(tupi).
“Macunaíma
em quadrinhos” reúne dois grandes ilustradores brasileiros: Ângelo Abu e Dan X.
O livro apresenta vários aspectos interessantes, um deles é o posfácio, em
forma de quadrinhos. Nele, os ilustradores traçam um breve roteiro biográfico
do trabalho artístico de cada um e chegam até à obra Macunaíma que já foi
“engolida pelo domínio público”.
Para
Laudo Ferreira, leitor e quadrinista, o livro foi narrado e graficamente interpretado
com o espírito das matas. Ressalta, ainda, as intertextualidades que os
artistas utilizaram para adaptar a história/rapsódia. Neste livro, estão
presentes: as pinturas das modernistas Anita Malfatti e Tarsila do Amaral, o cubisno
de Picasso, os planos e perspectivas de Escher, a beleza das artes incas e das
carrancas do rio São Francisco, culminando com “Mário na rede”, de Lasar
Segall. A inovação prossegue. Mário de Andrade criou Macunaíma “herói de nossa
gente”, como “preto retinto e filho do medo da noite”. Os adaptadores criaram um
Macunaíma azul.
A
capa é toda ilustrada em vermelho e preto e apresenta muitos figurantes:
índios, animais, monstros e alguns brancos. Bem no centro da capa, no meio do
emaranhado de desenhos, aparece Mário de Andrade. Na contracapa, um índio
conduz uma bela moça. No capítulo “Maioridade”, há reprodução da mesma cena e
ficamos sabendo que se trata do índio Jiquiê conduzindo pela mão uma cunhã.
Capa e contracapa proporcionam uma leitura rica e variada. O texto original de “Macunaíma” contém
dezessete capítulos. O texto adaptado apenas quatorze e um epilogo.
“Macunaíma, o herói sem nenhum caráter” (Ed. FTD, 2016) é
o texto integral da obra-prima de Mário de Andrade, considerada uma das obras
mais significativas da literatura brasileira. São dezessete capítulos, mais o
epílogo. O posfácio e as notas são de Noemi Jaffe que tem formação em Letras e
foi professora durante vinte e cinco anos de Literatura Brasileira em São
Paulo. A capa e as ilustrações do livro
são de Mariana Zanetti, arquiteta graduada pela FAUUSP. Zanetti já trabalhou
com mobiliário, teatro, cinema, depois fez a opção por ilustração de livros. Atualmente mora em Berlim.
Mário de Andrade se utilizou de muitos vocábulos de
origem tupi e cada capítulo traz um glossário com explicações das palavras de
origem indígena. Além do posfácio com o título “Pensamenteando sobre o herói de
múltiplos caracteres”, o leitor ainda encontra “Notas” com explicações sobre
cada capítulo, uma breve biografia de Mário de Andrade e a “Bibliografia” com
as principais obras consultadas para a elaboração das notas. E foram muitos livros
consultados.
Para Noemi Jaffe, “Macunaíma” é um dos livros mais
comentados, revirados e, também, incompreendidos da história da literatura
brasileira. Esta edição, com as
explicações da ilustre professora, irá torná-lo “palatável” e deixará de ser
incompreendido. O leitor jovem encontrará prazer na sua leitura que procura
esclarecer muita coisa que antes estava encoberta.
Concluímos essas considerações com uma passagem do último
capítulo do livro – “Ursa maior”:
- Macunaíma!
O dorminhoco nem se mexia.
- Macunaíma! ôh Macunaíma!
- Deixa a gente dormir, aruaí...
- Acorda, herói! É
de-dia!
- Ah... que preguiça! ...
- Pouca saúde e muita saúva,
Os males do Brasil são!...
(Aruaí é uma espécie
de papagaio, maritaca).
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