sábado, 17 de janeiro de 2009

O eterno menino maluquinho- ziraldo



Artigo - O eterno menino maluquinho

Eu preparo uma canção que faça acordar os homens e adormecer as crianças. (Carlos Drummond de Andrade. Canção Amiga)

Neide Medeiros Santos, Crítica literária da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil/Paraíba

Chegou mais um livro de Ziraldo nas livrarias para alegria dos leitores mirins - O namorado da fada ou O menino do planeta Urano (Editora Melhoramentos, 2008).

No livro "O menino da Lua", (Melhoramentos, 2006), Ziraldo criou uma turma de nove meninos, representantes de nove planetas, mas o autor já declarou que não vai obedecer à ordem dos planetas do sistema solar, os livros irão saindo de forma gradual e poderá haver uma interrupção para escrever outra história, como aconteceu com "A menina das estrelas" (Melhoramentos, 2007).

"O namorado da Fada ou O menino do Planeta Urano" é o primeiro menino interplanetário, o menino do planeta Urano. O principal personagem do livro é Théo que mora em um planeta todo feito de espuma e vapor. No planeta habitado pro Théo, o solo é "flutuoso" como um colchão de água. Nesse espaço sideral, vive também uma fada muito linda que se chama Anagrom e mora em um asteróide bonito, bem perto de Marte, todo enfeitado com "engenho e arte". Tente ler o nome da fada ao inverso. Surpresa! As fadas passeiam na Terra, na imaginação das crianças, há muitos e muitos séculos.

Um dia, Anagrom estava deitada em sua rede de palma quando descobre passeando no espaço um príncipe que era o dono desta história, o menino Théo. Ao avistar o menino, o coração de Anagrom bateu mais forte, foi um amor à primeira vista, os dois foram flechados por um outro menininho, aquele que se chama Cupido e que conduz um arco e flecha nas mãos. Como acontece nos contos de fadas, o tempo passou e Anagrom se transformou em uma linda moça, Théo em um bonito rapaz.

Mas, eis que surge uma bruxa... e os dois ficaram assustados. As bruxas sempre procuram fazer o mal, destruir os sonhos dos amantes apaixonados. Casamento marcado, juras de amor eterno, e agora? O que irá acontecer?

A bruxa da história de Ziraldo é uma bruxa boazinha, não irá fazer nenhum mal. No casamento de Théo e Anagrom, irá ajudar os noivos e abrilhantar a festa - contrata um coral de sapos cantores para cantar na igreja; com a ajuda dos duendes, "trasgos e avantesmas" prepara, em seu caldeirão, doces e iguarias como nunca se viu e convida toda a turma do Pererê para a festa.

Em nota, na última página do livro, Ziraldo explica que recorreu a duas palavras pouco comuns no diálogo com as crianças - "tragos e avantesmas", mas que são nomes adequados para esses tipos de monstrinhos, amigos da bruxa e que os leitores não terão dificuldades em compreender.

O narrador explica, ainda, nesta nota, que essa história não aconteceu ainda, está projetada para acontecer lá no século 3000 e o leitor poderá indagar: como foi possível saber cada detalhe? Milagres acontecem, estamos no reino das fadas e quem está contando a história é um "Viajante do Tempo", com uma visão de futuro longo, longo, bem além do horizonte.

Passado ou futuro não importa, o amor de Théo e Anagrom teve um final feliz como ocorre, geralmente, nos contos de fadas. Para dar um toque poético, todos que lá estiveram - ou um dia "estararão" naquela festa, cantaram ou "cantararão" um poema que o poeta preparou todo cheio de esperanças - uma canção para "acordar os homens e adormecer as crianças".

Na conversa descontraída da última página do livro, Ziraldo afirma que esta é a primeira história de amor que escreve para crianças e que os versos que utilizou para concluí-la foram tirados do poema "Canção Amiga", de Carlos Drummond de Andrade.

E aqui vai um lembrete para o pequeno leitor - se seu pai ou avô, pode ser também a mãe ou avó, gosta de colecionar coisas antigas e guardar moedas do tempo do império ou notas de dinheiro fora de circulação, pergunte se eles ou elas têm uma nota de cinquenta cruzados novos. Querem saber o motivo? Vou revelar o porquê da pergunta.

Em 1989, o Presidente do Brasil era José Sarney e a moeda da época era o cruzado novo. Drummond já habitava em outro planeta e surgiu uma nota de cinqüenta cruzados novos para homenageá-lo. No anverso da nota, aparecia o poema "Canção Amiga". Foram muitos planos para tentar estabelecer a moeda brasileira e o cruzado novo teve uma vida efêmera, essas notas só circularam até 1992, hoje ter uma nota de cinqüenta cruzados novos é coisa para colecionador ou pessoa que guarda o passado "preso na algibeira".

Agora, um convite - procure no livro "Novos Poemas", de Carlos Drummond de Andrade, o poema "Canção Amiga", leia, é bonito, curtinho e fácil de memorizar, leia sozinho, bem baixinho, leia para os seus amigos, copie e dê como presente a um amigo ou amiga que você guarda no lado esquerdo do coração, se quiser também pode procurar o CD Clube da Esquina 2, esse poema foi musicado por Milton Nascimento. É ler, ouvir, memorizar e não esquecer jamais.

Carlos Drummond de Andrade nasceu em 1902 e partiu para não mais voltar em 1987. "Canção Amiga" é o primeiro poema do livro "Novos Poemas", uma composição poética composta de 5 estrofes. A última estrofe do poema aparece como epígrafe deste texto e os dois últimos versos figuram como fecho da história do namorado da fada. Vale a pena repeti-los:

"Eu preparo uma canção 
que faça acordar os homens 
e adormecer as crianças."

É um poema que, na voz de Milton Nascimento, tem sabor de uma canção de ninar

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