sexta-feira, 23 de julho de 2010

Roger Mello: o poeta da ilustração.


Roger Mello: o poeta da ilustração.
( Neide Medeiros Santos – Crítica literária da FNLIJ/PB)

O que se espera de um livro para crianças é que as imagens contenham arte, que tenham sido feitas por um verdadeiro artista.
(Rui de Oliveira. Pelos jardins Boboli: reflexões sobre a arte de ilustrar livros para crianças e jovens)

Nosso convidado desta semana é o ilustrador e escritor Roger Mello. Ele vem acompanhado do poeta Manuel Bandeira e me traz um livro de presente – “Carvoeirinhos”, editado pela Companhia das Letrinhas em 2009, e que recebeu vários prêmios no Brasil, entre eles o Prêmio de Melhor Livro Ilustrado para Crianças da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (2010). O título do livro nos conduz ao poema de Bandeira – “Meninos Carvoeiros”.
Na entrevista que concedeu a Sérgio Maggio, no jornal “Correio Brasiliense”, em 26/10/2009, o escritor falou sobre a gênese do livro e deu as seguintes explicações: na sua infância, quando viajava de carro, saindo de Brasília, o menino via umas “casas redondas que soltavam fumaça” e o pai explicava que não eram casas, mas fornos de fazer carvão. Anos mais tarde, deparou-se com o poema de Manuel Bandeira “Meninos carvoeiros” e voltou a lembrança da infância e das casinhas de fazer carvão. Da junção dessas duas coisas, surgiu a ideia de escrever e ilustrar “Carvoeirinhos” que traz como epígrafe esses versos do poema de Manuel Bandeira:
Os meninos carvoeiros
Passam a caminho da cidade
- Eh, carvoeiro!
E vão tocando os animais com um relho enorme [...]

A madrugada parece feita para eles...
Pequenina, ingênua miséria!
Adoráveis carvoeirinhos que trabalhais como se brincásseis”




Repetimos palavras da escritora Eloí Bocheco, ditas em outro contexto. Aproximemo-nos do livro “Carvoeirinhos” com “delicadeza porque Roger Mello tem alma de seda”.
A cor da capa do livro chama a atenção do leitor pelo predomínio do cinza e do preto. O título “Carvoeirinhos” apresenta nuances nas cores: preto, cinza, vermelho, laranja e amarelo, simbolizando, respectivamente, o carvão, as cinzas e o fogo. Na capa aparecem, ainda, casinhas redondas de fazer carvão. Uma labareda laranja e vermelha, saindo de uma das casinhas, dá colorido ao universo cinzento e preto.
Se a capa é inovadora, mais inusitada é a história – um maribondo narrador tudo observa, tudo conta, através do monólogo interior. Há, também, a presença de meninos carvoeiros que interagem com o narrador.
No meio do livro – uma surpresa – recortes de papel coloridos em tons quentes, no formato de labaredas, dão um destaque especial às cores cinza e preto que aparecem no fundo da página.
Duas páginas do livro são ocupadas com casinhas de cupim que mais parecem cidadezinhas iluminadas. As larvas de vaga-lumes, representadas por pontinhos da cor laranja, acendem os cupinzeiros e tudo parece iluminado.
A linguagem é poética, frases curtas, ritmadas. Para Sérgio Maggio, é um livro que denuncia poeticamente os males do trabalho infantil. Denúncia semelhante também pode ser registrada em “Meninos do Mangue” do mesmo autor ( Companhia das Letrinhas, 2001).
Em 2007, a “Folha de São Paulo” publicou uma lista de livros que toda criança deve ler antes de virar adulto e lá estavam três livros de Roger Mello: “A flor do lado de lá” (Ed.Global, livro só de imagens) ; “Todo cuidado é pouco (Ed. Companhia das Letrinhas), “Meninos do Mangue” (Companhia das Letrinhas). Acrescentamos mais dois livros para completar cinco livros: “Jardins” (Ed. Manati, texto de Roseana Murray e belíssimas ilustrações de Roger Mello) e “Carvoeirinhos”, objeto de nossos comentários.
Despedi-me do nosso convidado desta semana com a promessa de que irá escrever e ilustrar livros tão bonitos quanto “Carvoeirinhos”. Alguns já estão em fase de gestação. Aguardemos.

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