sábado, 19 de fevereiro de 2011

Pequenas doses poéticas-Festa no meu jardim e estações da poesia



LIVROS & LITERATURA
(Neide Medeiros Santos – Crítica literária-FNLIJ/PB)

Pequenas doses poéticas

Sou hoje um caçador de achadouros da infância. Vou meio dementado e enxada às costas cavar no meu quintal vestígios dos meninos que fomos.
(Manoel de Barros. In: Leitura e Literatura Infanto-Juvenil. Redes de Sentido. Org. Rosemar Coenga)

O poeta Manoel de Barros nos ensina que a poesia está em tudo: nas memórias inventadas, no voo dos passarinhos, na pedra, no grão de areia, nos pequenos animais. Marcos Bagno e Luís Dill assimilaram bem a lição do poeta pantaneiro e escreveram “Festa no meu jardim” (Bagno) e “Estações da poesia” (Dill). Os dois livros foram publicados pela Editora Positivo (2010). Lúcia Hiratsuka fez as delicadas ilustrações para o livro de Marcos Bagno e Rubens Matuck, com suas manchas e aguadas, deu vida e beleza ao livro de Dill. Os ilustradores utilizaram a técnica da aquarela que confere leveza à ilustração.
“Festa no meu jardim” nos leva ao poema de Cecília Meireles – “Leilão de jardim”. (In: Ou isto ou aquilo). Parece que Bagno ouviu a delicada voz da poeta carioca. “Festa no meu jardim” contém singelezas poéticas que nos transportam ao mundo ceciliano.
O jardim é habitado por caracóis, sabiás, cigarras, borboletas É no jardim que “a vida corre e voa/ pula, vibra e ri à toa!”.
O caracol anda bem devagarinho “de manhã até ao pôr do sol”. Quando a noite chega, ele se recolhe, “entra na conchinha e dorme.”
O sabiá tem “uma linda voz de flauta”. Está sempre presente no jardim, “... assobia meiga e sábia melodia...”
O reco-reco das cigarras incomoda. Sua cantilena provoca irritação, mas esse canto monótono dura pouco tempo. “Enchem um mês com seu canto, / depois somem, por encanto”.
A liberdade da borboleta é exaltada nesta quadrinha:
“A borboleta passeia
leve e solta pelo ar...
Difícil acreditar,
mas já foi lagarta feia!”(p.21)

Para ilustrar esses pequenos poemas de Marcos Bagno, Lúcia Hiratsuka utilizou muitas flores e folhas, seguindo a técnica do sumiê, um tipo de ilustração japonesa.
Luís Dill escreveu breves poemas, estabelecendo vínculos com as estações do ano, aproximando-os dos haicais. Os poemas estão agrupados em quatro partes, relacionados com as quatro estações do ano.
Como estamos no mês de fevereiro, para comemorar o verão, vai este poeminha:
“Fevereiro danado
faz lago fugir do sol:
quebra-cabeça de seca” (p.9)

Para celebrar o inverno, selecionamos este poema:
“Amores-perfeitos
tão lindos
aquecem manhã de inverno” (p.27)

Rubens Matuck soube escolher as cores adequadas para cada poema. No verão, império do sol, há o predomínio dos tons amarelos; no inverno, os tons sombreados ilustram os poemas. Para a primavera, um colorido bem variado. O outono se caracteriza pela força do vento e nada melhor do que ilustrar com folhas de várias tonalidades de ocre e vermelho desbotado.
Esses dois pequenos livros, com poemas em doses homeopáticas, deliciam o olhar e embevece o leitor que gosta de poesia. No adulto, a leitura provoca o reencontro com a infância perdida, relembra o menino que foi; a criança entra na brincadeira do faz-de-conta e penetra “surdamente no reino das palavras”.



2 comentários:

A Torre Mágica | Pedro Antônio de Oliveira disse...

Bom demais este blog. Estou seguindo!

AbraçãoO!

Pedro Antônio

Anônimo disse...

Estações da poesia