sábado, 12 de março de 2011

MARINA COLASANTI: artista dos pincéis e da palavra




LIVROS & LITERATURA
(Neide Medeiros Santos – Crítica literária - FNLIJ/PB)

MARINA COLASANTI: artista dos pincéis e da palavra

Penso que o ato de criação de imagens se origina não diretamente na palavra, mas no entre palavras.
O texto é a origem de tudo. É impossível ilustrar sem gostar de literatura. É impossível ilustrar sem gostar de ler.
(Rui de Oliveira. Pelos jardins Boboli)

A trajetória artística de Marina Colasanti teve início com a opção pelo curso de Belas-Artes. Terminado o curso, começou a fazer gravuras e a participar de salões de arte e exposições. Anos mais tarde dedicou-se à literatura, mas não abandonou a pintura. Atualmente, escreve e ilustra seus próprios livros.
Em 1962, surgiu a oportunidade de trabalhar no Jornal do Brasil (JB) e foi escrevendo para jornais que descobriu que poderia ser escritora. (O jornal ainda é a grande escola dos escritores). No JB, escrevia crônicas e editava o caderno infantil. Ficou no JB até 1973.
Em 1977, a revista “Nova” contratou Marina Colasanti para ser editora de comportamento. Foi a fase de escrever sobre questões relacionadas à MULHER. O sucesso dos textos que escrevia para a revista motivou convites para proferir palestras em diferentes regiões do Brasil. A temática era sempre a MULHER brasileira, seus problemas, o modo de ser e de viver dessa nova MULHER.
1979 foi um ano marcante na vida da escritora/ilustradora. Publicou e ilustrou “Uma ideia toda azul”, livro de contos de fadas que trazia um caráter inovador. Com este livro, ganhou dois grandes prêmios nacionais em 1980 – Grande Prêmio de Crítica em Literatura Infantil da APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) e o Prêmio “Melhor Livro para Jovens” da FNLIJ. Dentro da temática de contos de fadas, Marina vem publicando com regularidade livros para crianças e jovens. “A moça tecelã” (Ed. Global) é um dos mais bonitos.
“Antes de virar gigante” (Ed. Ática, 2010) é o livro mais recente. Reúne 28 textos, compreendendo contos, poemas e crônicas, agrupados em cinco blocos, assim definidos: “O horizonte além da janela”, “Medo e encanto se mesclam”, “Lua na barriga, circo e fantasia”, “Jeitos diferentes de ver (e ouvir), “Segredos de criança”.
No bloco “O horizonte além da janela”, vamos encontrar textos cheios de magia que apresentam afinidades com os contos maravilhosos. “Uma ideia toda azul”, o conto de abertura do livro, é um bom exemplo de texto mágico. Um rei guarda carinhosamente uma ideia azul nos seus aposentos.
Em “Medo e encanto se mesclam”, os animais estão presentes nos contos e nos poemas. A história do cachorro preto vem revestida de ternura. Foi um longo caminhar para Milord tornar-se um verdadeiro amigo.
“Lua na barriga, circo e fantasia” reúne narrativas atemporais e minicontos que encantam pela beleza poética dos textos. “A moça tecelã” foi republicado e integra esse conjunto.
Há um miniconto em “Jeitos diferentes de ver (e ouvir) – “Apto 902” - que ironiza o largo tempo que as pessoas dedicam à televisão. Toda noite, o pai, a mãe, a avó e a filha olhavam a televisão. A família sentava-se sempre nos mesmos lugares. Ocorreu que um dia a poltrona, lugar reservado pelo pai, o sofá, local que a mãe se sentava, a cadeira de balanço, a preferida pela avó, e o banquinho, lugar da filha, mudaram de lugar. Agora eles se sentam no colo dessas pessoas “e a televisão, para sempre ligada, ficou olhando para eles.” Depois da leitura desse pequeno conto, o leitor tira suas conclusões.
O primeiro texto do bloco “Segredos de criança” é um poema que traz o mesmo título do livro – “Antes de virar gigante”. Reflete muito bem a visão da criança diante do mundo circundante – na casa em que a menina morava, os corredores eram longos, as mesas altas e as camas enormes, mas havia gigantes circulando pela casa. O cotidiano se funde com o imaginário e lá apareciam gigantes. Os textos deste grupo estão próximos da vivência da própria autora quando criança, eles contêm uma boa dose de memorialismo.
“As janelas sobre o mundo”, fecho do livro, traz um pouco da biografia de Marina Colasanti, o seu gosto pela literatura, artes e a prática de escrever diários que perdura até hoje.
Um depoimento do marido Affonso Romano de Sant´Anna, poeta e escritor, demonstra o grau de sensibilidade da artista dos pincéis e da palavra.
Affonso revela que Marina lhe ensinou a ver detalhes. Um dia, quando ele estava trabalhando muito e chegou em casa encontrou este bilhete que dizia:
Hoje, meu marido perdeu um pôr de sol, uma orquídea que se abriu e o canto de um pássaro.
O bilhete diz tudo. Os pintores e os poetas nos ensinam a ver detalhes.

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