Tecer considerações sobre livros e autores a partir da literatura produzida para crianças e jovens no Brasil. Os textos deste espaço estão disponíveis para pesquisa; devendo-se, em caso de citação, indicar a fonte, conforme a legislação em vigor: LEI Nº 9.610
sexta-feira, 25 de março de 2011
Presença feminina nas letras e na educação latino-americana (século XIX)/Nísia Floresta
Presença feminina nas letras e na educação latino-americana (século XIX)
(Neide Medeiros Santos – Crítica literária – FNLIJ/PB)
A ignorância de nossas mulheres poderá ser um dia substituída por conhecimentos que as tornem dignas de renome.
(Nísia Floresta. Opúsculo Humanitário)
Danilo R. Streck, professor do Programa de Pós-Graduação em Educação da UNISINOS, foi o organizador do livro “Fontes da Pedagogia Latino-Americana. Uma antologia”. (Ed. Autêntica, 2010).
A obra reúne textos de 26 pensadores que marcaram a educação na América Latina e no Caribe. Os textos selecionados vêm acompanhados de análises de estudiosos dos respectivos autores.
No universo dos educadores que se destacaram no cenário latino-americano, figuram três mulheres: Nísia Floresta (Brasil, 1810-1885), Maria Lacerda de Moura (Brasil, 1887-1945) e Gabriela Mistral (Chile, 1889-1957). O papel que Nísia Floresta exerceu na educação latino-americana será o foco de nosso interesse.
Graziela Rinaldi da Rosa apresenta o estudo sobre Nísia Floresta, pseudônimo utilizado por Dionísia Gonçalves Pinto. Sobre a origem do pseudônimo, vem esta explicação: Nísia Floresta Brasileira Augusta – Nísia é o diminutivo de Dionísia; Floresta para lembrar o sítio Floresta; Brasileira como afirmação do sentimento nativista e Augusta foi uma homenagem ao seu companheiro – Manuel Augusto.
Nísia Floresta nasceu no sítio Floresta, em Papari (RN), atual Nísia Floresta. Passou a infância no sítio, tendo aí aprendido as primeiras letras com seu pai que era um advogado português. Casou-se com Manuel Alexandre Soares quando tinha apenas 13 anos, abandonando-o um ano depois. Fora um casamento sem amor e sem paixão. Mais tarde, transferiu-se para Goiana (PE), cidade bem mais desenvolvida do que Papari, e, posteriormente, para Recife. Foi em Recife que conheceu o acadêmico de direito Manuel Augusto de Faria Rocha e com ele viveu um grande amor.
Foi pioneira na educação feminista no Brasil e se preocupou, principalmente, com a educação e o papel da mulher em nossa sociedade. Acreditava que o progresso de uma sociedade dependia da educação que era oferecida às meninas.
Autodidata, poeta, poliglota, escritora e educadora, deixou cerca de 15 títulos, compreendendo poemas, romances, ensaios. Muitos desses trabalhos foram publicados na imprensa.
Recebeu influência de quatro correntes de pensamento: a filosofia da Ilustração, o idealismo romântico, o utilitarismo e o positivismo.
“Inspirada nessas correntes filosóficas, que estavam em voga na metade do século XIX, começou sua produção teórica no ano de 1831. Em Espelho das Brasileiras, um jornal dedicado às senhoras pernambucanas do tipógrafo francês Adolphe Emille de Bois Garin, ela começa a surgir como escritora.” (p.91)
Em 1832 publica seu primeiro livro – Direitos das mulheres e injustiça dos homens. A professora e pesquisadora Constância Duarte considera este livro o texto fundante do feminismo brasileiro. Nísia tinha apenas 22 anos.
Criou duas escolas para meninas no Brasil – colégio Augusto ( o nome é uma homenagem ao companheiro), no Rio de Janeiro, e outra escola em Porto Alegre (RS). Sobre esta última, pouco se sabe.
No Rio de Janeiro, a escola Augusto funcionou durante 18 anos e o programa de estudos incluía: latim, caligrafia, história, geografia, religião, matemática, português, francês, inglês, música, dança, piano e desenho.
Com relação à exclusão das mulheres nas cátedras universitárias no século XIX, deu esta explicação:
“... se não são vistas mulheres nas cadeiras das universidades, não se pode dizer que seja por incapacidade, mas sim por efeito da violência com que os homens se sustentam nesses lugares, em nossos prejuízos”. (p. 92)
Morou em Paris e lá muito escreveu sobre nosso país, desmistificando a visão errônea que os europeus tinham do Brasil. Vítima de pneumonia morreu aos 74 anos e foi enterrada no cemitério Bonsecours. Hoje, seus restos mortais estão no Brasil.
Nísia Floresta foi uma mulher muito além do seu tempo, lutou com garra pelos direitos das mulheres, criou colégios, escreveu para jornais e publicou livros. Foi tão nacionalista que incluiu, no seu pseudônimo, o vocábulo Brasileira.
Para saber mais sobre esta marcante mulher, consulte-se o livro organizado por Danilo R. Streck. Recomendamos ainda: “Nísia Floresta: uma mulher à frente do seu tempo” de Constância Duarte. Ed. Mercado Cultural, 2006 e “Mulheres Símbolos” de Joacil de Britto Pereira. Ed. Universitária/UFPB, 2007.
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