Tecer considerações sobre livros e autores a partir da literatura produzida para crianças e jovens no Brasil. Os textos deste espaço estão disponíveis para pesquisa; devendo-se, em caso de citação, indicar a fonte, conforme a legislação em vigor: LEI Nº 9.610
sábado, 3 de julho de 2010
Angela-Lago e a lição da simplicidade
Angela-Lago e a lição da simplicidade
(Neide Medeiros Santos – Crítica literária da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil – PB)
Gostaria de ser simples em tudo. Simplicidade é a coisa mais bonita do mundo. Ser simples nos ajuda a ser inteiros. Além disso, a simplicidade permite que eu me aproxime do meu leitor predileto: a criança.
(Angela-Lago. Entrevista publicada pela Cosac Naify)
Angela-Lago, mineira de Belo Horizonte, escreve e ilustra livros infantis desde 1980. Já recebeu diversos prêmios no Brasil e no exterior. Seu livro “Cena de rua” (1994) integra a antologia “The Best Picture books of world” de Abhram Press, de Nova York.
Quando Ferreira Gullar entregou os originais de “Um gato chamado gatinho” à editora Salamandra, o editor Paschoal Soto convidou Angela-Lago para ilustrá-lo. Foi um casamento perfeito – reuniu dois gatófilos – um grande poeta e uma excelente ilustradora. O livro agradou a todos.
Em 2007, nova surpresa – “Um livro de horas”, uma edição de rara beleza, uma seleção de poemas de Emily Dickinson ilustrados e traduzidos por Angela-Lago e a conquista de mais prêmios – Prêmio Jabuti na categoria de Ilustração e Prêmio FNLIJ nessa mesma categoria.
Entre 2009 e 2010, a escritora/ilustradora ganhou três grandes prêmios. O primeiro, da Fundação Biblioteca Nacional (2009), pelas ilustrações do livro de poemas de Ronaldo Simões Coelho - “Bichos” (Ed. Aletria). Este livro ficou em 2º. lugar no Concurso da FBN e já foi objeto de comentários nesta coluna.
Com “Marginal à esquerda” (RHJ: 2009), ela obteve o Prêmio de Melhor Livro para Jovem, da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (2010 – Hors Concours). Este mesmo livro conquistou, recentemente, o Prêmio de Literatura Infantil da Academia Brasileira de Letras. A escritora será recebida no Petit Trianon (ABL), no dia 20 de julho, data do 113º. aniversário da ABL.
Vamos conhecer um pouco do rico universo de “Marginal à esquerda”.
O protagonista da história é Miúdo, um menino que tem música na alma. Nas mãos de Miúdo, “o violino parece falar”, é assim que Maria do Zé Pita, sua irmã, se refere ao caçula da família.
Uma mãe e quatro filhos, esta é a família de Miúdo. Eles moram na periferia de uma cidade grande. Envolvimento com drogas, uma mãe doente e um ambiente de muita pobreza cercam a vida de Miúdo.
Para atravessar a noite e minorar o sofrimento, a mãe pede ao filho: “Toque as Quatro Estações, de Vivaldi”. A música invade o casebre e parece vinda do céu. Os sons do violino enchem a noite e o ambiente daquela casa humilde se torna aconchegante e acolhedor. Pouco a pouco a mãe adormece e esquece as dores.
O carinho devotado ao filho caçula suscita ciúmes nos irmãos. E vem a pergunta: A mãe acredita que Miúdo será um dia um grande músico? Sim. Aquela mãe doente, que pouco espera do futuro, tem grandes esperanças no filho músico.
Surge o convite para Miúdo tocar em São Paulo. O menino comunica a mãe o convite recebido, e ela com o coração partido diz: “Vai meu filho, e não volta”.
Tocar em São Paulo, diante de uma grande orquestra, é uma boa oportunidade para Miúdo. É a possibilidade de sair da marginalidade.
Qual será o destino de Miúdo ? Não sabemos. O livro termina com enredo aberto. Cabe ao leitor tirar suas conclusões.
Com “Marginal à esquerda”, Angela-Lago demonstra que seus livros vão além do simplesmente literário. É uma escritora comprometida, também, com o social. A preocupação com meninos de rua, que já se evidenciava em “Cena de rua”, foi retomada, com muita propriedade, neste seu último livro.
Na entrevista que concedeu à editora Cosac Naify, a escritora externou que gostaria de ser simples. Acrescentamos que a sua simplicidade reside em não usar artificialismos lingüísticos, em saber escolher as palavras certas, em dizer o máximo com o mínimo de palavras. Ser simples é escrever como Angela-Lago, com leveza e poeticidade. Lembramos palavras do escritor Graciliano Ramos – “A palavra não foi feita para enfeitar, brilhar como ouro falso, a palavra foi feita para dizer.”
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2 comentários:
Olá Neide,
Muito bacana seu artigo, inserimos o link em nosso facebook.
Abraços,
Equipe Editora RHJ.
Oi Neide,
Muito bom o artigo.
Adoro a Angela, acho que ela é uma escritora fantástica e um ser humano especial.
Prêmios ela merece todos os possíveis mas, pelo pouco que conheço dela, o maior dos prêmios é tocar o coração dos seus leitores.
Abraços,
Chris Angelotti
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